Átimos
Penso que o haicai é um gênero que exige do poeta uma sensibilidade ímpar e uma enorme capacidade de síntese. Certamente, é um desafio manejar os recursos da língua num espaço tão reduzido. Em Átimos, você consegue tudo isso de forma brilhante: sonoridades harmônicas, trocadilhos originais, metáforas instigantes, um olhar filosófico que passeia pelos elementos da natureza e da existência humana, com delicadeza, ao mesmo tempo com requintada ironia, que por vezes tempera sutilmente os versos. E ainda há o perfume de jasmim, que, com certeza, chegará a cada leitor. Elementos tradicionais do haicai foram mantidos, como a alusão às estações do ano, mas sempre com uma leitura bastante pessoal e intimista. As imagens complementam e dialogam com os poemas, enriquecendo-se mutuamente. Enfim, uma obra de rara beleza e talento, que eu enxergo, fosse uma pintura, em tons suaves, maravilhosamente combinados.
Alguns haicais do livro Átimos:
FRÁGIL
Da casa de cera
Nada restará
Depois do sol.
LAUREL
Aos três versos
A cabeça eu baixo,
Até Matsuo Bashô.
ESPETÁCULO
É show o salto
Da rã na velha
Lagoa de Bashô.
NATUREZA
As palmeiras dançam
E os ipês rebolam
Ao som das cigarras.
GÊNE$I$
No princípio
Era o verbo e
Hoje, a verba.
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