O livro de Juan Urbano filho de Átena com um lugar

Em sua obra, Rosa nos leva ao nascimento de Juan Urbano, um personagem único que, ao mesmo tempo, mescla o indivíduo Juan, nascido de Athena, que possui uma face como pessoa e, ao mesmo tempo o coletivo, traduzido, na obra, enquanto
Urbano. Sua própria gênese característica, nos mostra que é uma difícil tarefa definir Juan, então, invocarei de maneira
simbólica e imagética alguns deuses de mitologias diversas, na tentativa de, humildemente, exprimir um pouco de sua essência,
ao entrar em contato com tão fecunda obra.
Juan se assemelha em muitos aspectos ao deus grego Hermes, que possui sandálias aladas, que o levam para onde queira, eis o protagonista de nossa obra se convertendo de maneira hermética (encimado pela qualidade do Deus grego), podendo ir e vir, presente nos ambientes de maneira fronteiriça, nem dentro e nem fora, mas sim nos limiares dos lugares e situações. Está no todo e ao mesmo tempo, em lugar nenhum. É um discípulo do deus egípcio Toth, o deus escriba, que guarda, em sua biblioteca, todas as informações sobre o mundo.
De maneira sagaz e trickster (relembrando a figura mítica pregadora de peças, que possui origens em lendas irlandesas), Urbano acompanha a cidade, é contido por ela e ao mesmo tempo é ela, filho de Ágora.
Juan Urbano também se veste na figura do deus africano Exu, o senhor dos caminhos, dono das encruzilhadas, relembrando que, na cosmopercepção africana, a noção de encruzilhada não diz respeito a dúvidas, medos ou incertezas, todavia versa sobre a multiplicidade de caminhos que podem ser trilhados na vida, é a pluralidade de caminhos na jornada que chamamos de vida. Juan é, então, metamorfo, polimórfico e plural, viva Juan!
Leonardo Tondato